quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

“Descalçar -se para entrar no outro.”


Uma manhã, meditando sobre um anúncio, deparei-me com a expressão que ressoou de uma maneira muito especial ao meu coração:

“Descalçar -se para entrar no outro.”

 Perguntei ao Senhor que significava isto. Ocorriam-me palavras como respeito, delicadeza, cuidado, prudência…

 "Senti-me impulsionado a ler as palavras do Êxodo3, 5: “ não te aproximes mais; tira as tuas sandálias, por que o que pisas é um lugar sagrado”.

 Não tardei em pôr -me em oração: Jesus apresentava-me, um a um, os meus amigos e conhecidos, e logo a outros.

E descobri como habitualmente entro no interior de cada um sem me descalçar; simplesmente, ENTRO; sem pensar no modo, ENTRO.

Experimentei uma forte necessidade de perdão ao Senhor e aos meus irmãos.

 Senti que o Senhor me convidava a descalçar-me, e logo a caminhar. Imediatamente experimentei uma dificuldade: não queria sujar-me. Era mais seguro e cómodo andar calçado com os outros.

 Vencido este primeiro momento, comecei a caminhar, e o Senhor, a cada passo, ia mostrando-me algo novo. Notei que descalço podia descobrir as diferenças do chão que pisava, distinguir o húmido e o seco, a relva da terra.

Necessitava de olhar a cada passo o que pisava, estar atento ao lugar aonde ia pôr o meu pé. Dei-me conta de quantas coisas do interior dos meus irmãos me passavam ao lado, desconheço-as, não as tenho em conta, por entrar calçado, com o olhar posto em mim, ou disperso em múltiplas coisas…

 Pude ver também como descalço caminhava mais lentamente, não no meu ritmo habitual, tratando de pisar mais suavemente.

Onde as minhas sapatilhas tinham deixado marcas, o meu pé não as deixava. Pensei então quantas marcas terei deixado no coração dos meus irmãos ao longo do caminho, e experimentei um grande desejo de entrar sem deixar um cartão que diga: “ estive aqui”.

 Por último, fui atravessando distintos terrenos; primeiro relva, logo um caminho de terra, até chegar a uma subida e esta com pedras. Senti desejo de parar e voltar a calçar-me, mas o Senhor convidou--me a caminhar descalço um pouco mais.

 Notei que nem todos os terrenos eram iguais, e nem todos os meus irmãos são iguais. Portanto não posso entrar em todos da mesma maneira.

 Esta subida exigia-me ainda mais lentidão, e quanto mais suavemente pisava a dor dos meus pés era menor. Isto dizia-me: quanto mais difícil é o terreno do interior de meu irmão, mais suavidade e mais cuidado devo ter para entrar.

 Depois deste caminho feito com o Senhor, pude ver claramente que descalçar-me é entrar sem prejuízos, atento à necessidade de meu irmão, sem esperar uma resposta determinada. É entrar sem interesses, despojado de minha alma…"

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Oncologia


Não consigo explicar bem porquê mas sempre me senti alheio ao sofrimento dos outros. 

Se calhar porque nunca participei dele. Neste estágio sinto algo diferente, algo está a mudar, está-me a afectar, a tocar de alguma forma. Agora... Agora sinto-me incomodado pelo sofrimento destes doentes, pelo sofrimento dos seus familiares, pelo sorriso que tentam impor nas suas caras. Sinto-me de mãos atadas.

Tenho muito que aprender... e com eles aprendi a colocar um sorriso, mesmo sem vontade. Não se trata de fingir mas sim lavar a cara, e vestir o sorriso para enfrentar o que ai vem.